E eu cresci ouvindo isto e disto já cansei: ”Olha menino, isso passa”. E lá se vão mil lembranças do ”isso passa”. ”Levou bomba na prova? Passa”. ”Namorada traíu e dói? Ora, passa”. ”Você foi acertado por um asteróide de Marte e perdeu dois dentes e ganhou um rabo de burro pela magia dos marcianos? Que chato hein. Mas passa”. Meu caro, eu posso ter ganho nome de burro, besta, nojento e fraco, mas nada passa. A dor é traiçoeira, ela entra e fica ai dentro só esperando aquela velha saudade, o primeiro momento de fraqueza por chocolate barato e ataca. Aperta, puxo o que tem pra fora pra dentro, e joga o que tem dentro pra fora. Minha filha, dor não bate as botas, a gente que cria vergonha-na-cara e aprende a lidar. Então, por favor, não tire o meu mérito disso. Nada passa filha, nada! O bom, o certo, o errado. A gente que aprende a mudar e a lidar. E se acostuma tanto com a dor que ela cansa de encher e desiste. Daí vira o tal do aprendizado, e ainda fica marcada com um pé na bunda da gente que venceu. Eu venci minhas dores minha filha, não tire o meu mérito. Eu aprendi que a dor não é tudo, isso a gente não aprende na escola. Não tira meu mérito de ter sobrevivido não.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Postado por Ingrid Corrêa às 20:55
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